Ganham 1.500 euros por mês, mais do que a média nacional, mas mesmo assim, vêem-se obrigados a pedir ajuda por causa das dívidas. O problema do sobreendividamento é cada vez maior e afecta uma nova classe de pessoas, com um estatuto social elevado e um rendimento mensal maior.
Tudo porque, apesar dos rendimentos razoáveis, muitas pessoas vivem acima das possibilidades e acumulam créditos, uns atrás dos outros. A maioria tem entre três e dez empréstimos por pagar, muitos contratados quando a família já estava em dificuldades. Aos habituais crédito habitação e crédito automóvel acrescem vários créditos pessoais, para comprar tudo e mais alguma coisa.
Nos primeiros seis meses deste ano, os pedidos de ajuda direccionados à DECO por parte de pessoas sobreendividadas quase duplicou face ao mesmo período do ano passado (mais 95%). Foram abertos 1.424 processos e, em muitos deles saltam à vista palavras como desemprego e redução de rendimentos, como explicou a especialista da associação, Natália Nunes, à Agência Financeira.
Desemprego e salários em atraso deixam muitos em maus lençóis
«Não se trata de casos em que as empresas tenham reduzido salários, mas sim de casos em que as empresas, que se encontram, também elas, em dificuldades financeiras nesta altura de crise, não pagam os salários aos funcionários, ou pelo menos, não pagam a totalidade dos salários», explica.
O desemprego e os salários em atraso ou outras degradações das condições laborais estão na origem de metade dos casos recebidos pela DECO. Casos esses que, muitas das vezes, chegam praticamente tarde de mais.
«A vergonha, que é um factor que já devia ter sido ultrapassado, ainda impede muita gente de pedir ajuda mais cedo», lamenta Natália Nunes. «Para os bancos poderem ajudar e encontrar soluções, as pessoas têm de se queixar e pedir ajuda. Muitas não o fazem, e só recorrem a nós quando os processos já vão na fase da execução, quando o que deviam fazer era pedir ajuda o mais cedo possível».