A classe política portuguesa não tem juízo. Quando os negociadores do PSD e do Governo mais precisavam de serenidade, as reacções das últimas horas só serviram para adensar o ambiente.
Primeiro foi Passos Coelho, que disse a militantes do partido que se não houver entendimento nas negociações do orçamento, "não se pode exigir ao PSD que iluda o país e que diga que vale a pena tudo de qualquer maneira". Tendo em conta o ambiente que precedeu as negociações, com lavagem de roupa suja em público, estas palavras só poderiam cair como caíram: como fósforo em floresta regada a gasolina.
Mas se a reacção de Passos Coelho foi má (ah! O desejo de agradar aos militantes…) a do PS não ficou atrás. Luís Amado, uma das pessoas mais sensatas do executivo, veio logo lembrar que se não houver OE, o Governo chegará fragilizado ao Conselho Europeu desta semana. E como se isso não bastasse, Fernando Medina, porta-voz do Governo, e Francisco Assis, líder parlamentar, juntaram-se à molhada, dizendo que as declarações de Passos dificultam um acordo. Mas era preciso que lembrassem isso (deitando mais gasolina para a fogueira)? Ah! O desejo de agradar aos militantes…
São coisas como esta que mostram o nível da classe política que temos. PS e PSD já deviam ter percebido que os interesses em jogo são tão importantes que o país dispensa mais disputas de faca na liga. Mesmo admitindo que os "piropos" das últimas horas não vão emperrar um acordo, para quê brincar com o fogo? Por causa dos militantes (ou melhor, das "constituencies")? Mas elas são mais importantes do que o país?
Por Camilo Lourenço - JN 28/10/2010